Dribla, corta-luz, em zigue-zague zanza,
caminhando sorrateiro, de esgueio, no esteio
dessa noite, dessa fome, desse veio sujo,
no espelho d'ĂĄgua refletindo o corpo feio,
a barriga encardida e engraçada
de tĂŁo magra, inchada, descadeirada,
ossos de baleia no couro curtido,
vivo e decidido. Segue sem sabare,
sem desejo e sem querer;
eterno porque estĂĄ presente,
a gana do sobrevivente
NĂŁo deixe a rua te catar, te mudar, te matar.
Voe baixo como um vira-lata,
baixo como vira-lata, flutuando pelo ar.
Baixo como um vira-lata, baixo como um vira. (4x)
VĂȘm de lĂĄ, vĂȘm de lĂĄ, nego falĂŽ:
"Vira-lata em Sampa santo era em outro lugar"
VĂȘm de lĂĄ, vĂȘm de lĂĄ, vĂȘm de lĂĄ, nego falĂŽ:
"Inzoneiro samba zanza, zanza pelo ar".
A rua atravessa o cĂŁo tĂŁo destraĂda,
a avenida segue quieta, perdida na batida:
cuspida, escarrada, surrada, fudida suja e maltrapilha,
sĂł de ida e sem saĂda, todo mundo na avenida.
O nome Ă© o distintivo que o mendigo nĂŁo tem mais.
JĂĄ perdeu, tanto fez, tanto faz.
Nove vira-latas o mendigo tem:
cada vira-lata um nome diferente traz.
Dignidade traz. Dignidade traz.
Dignidade traz. Dignidade traz.
Ă preciso acreditar que a rua
nĂŁo Ă© simplesmente atravessar a rua.
Que existe algum lugar
pra se chegar, pra se sonhar
NĂŁo deixe a rua te mudar, te quebrar, te matar.
Voe baixo como um vira-lata, baixo como vira-lata
flutuando pelo ar.
Baixo como um vira-lata, baixo como um vira. (4x)
VĂȘm de lĂĄ, nego falĂŽ:
"Vira-lata em Sampa santo era em outro lugar"
VĂȘm de lĂĄ, vĂȘm de lĂĄ, nego falĂŽ:
"Inzoneiro samba zanza, zanza pelo ar".